10/09/2011
*Miguel Pereira

Tipos característicos estão representados no filme de modo a fazerem conexões com a prática cotidiana. Não são propriamente vilões e mocinhos. Mas, nacos de comportamentos que podem estar numa única personalidade. Essa talvez seja a mais curiosa invenção de Cláudio Torres: materializar os vários eus que todos somos. O professor de física, que vive à mingua com os baixos salários de uma universidade particular, é o mesmo gênio que constrói um acelerador de partículas capaz de materializar e desmaterializar o tempo e o espaço. A partir dessa convenção, a sua história pode tudo, sem muita preocupação para convencer o espectador. O sinal já está dado, e, as idas e vindas, assim como os efeitos visuais, tornam-se aceitáveis como fatos de imaginações delirantes. Riquezas e fortunas, conseguidas com uma espécie de mágicas da física do professor João, são subtraídas ou concedidas ao sabor de uma história controlada por leves críticas ao culto do dinheiro, do sucesso, e da corrupção em oposição ao verdadeiro amor. Muitas vezes divertida, esta história acaba levando o espectador a embarcar nela sem perceber algumas de suas sutilezas que vão além do mero divertimento.
É evidente que O homem do futuro é também uma boa ocasião para que seu elenco exiba talento e capacidade histriônica, com óbvio destaque especial para Wagner Moura nos vários papéis que faz do mesmo João. Mas, o conjunto das interpretações merece ser registrado como afinado ao todo e num tom adequado, saudando o retorno à cena de um dos melhores atores brasileiros, Rogério Froes, no mínimo papel de um juiz corrupto.
* Miguel Pereira – Professor da PUC-Rio e crítico de cinema